Na iminência do incêndio, o inominável já está à espreita. Uma precisão de dar vida a um que toca, machuca. E lá vai o demônio... embaixo da mesa, na ponta dos dedos, pelas costas, beiço colado ao ouvido esquerdo. De mãos dadas com o diabo, vou ao caminho de Deus.
Re-bento. Antes de Maria cerzir as próprias fissuras, o batismo é consumado – a obra já nasce benzida pelo coxo. Fruto de vosso ventre maldito e da maldade de escrever.
Ficamos assim: Deus é o significado, o diabo, o significante.
Eu quero fazer do teatro, minha vida. E, de sua arte, o sentido dela.
Eu quero fazer como o escultor alemão Joseph Beuys. Cobrir meu rosto com banha e pó dourado e ficar falando, por horas, com uma lebre morta apoiada, carinhosamente, no colo.
Eu quero uma performance. Uma intervenção.
Pra me sentir completa, pra me sentir verdadeira.
No ônibus, dormindo-acordada-sonhando, uma de minhas consciências me sussurou:
"Pessoas como você só encontram a salvação na Arte..."
Ana Mendieta morreu. E eu também.