Na iminência do incêndio, o inominável já está à espreita. Uma precisão de dar vida a um que toca, machuca. E lá vai o demônio... embaixo da mesa, na ponta dos dedos, pelas costas, beiço colado ao ouvido esquerdo. De mãos dadas com o diabo, vou ao caminho de Deus.
Re-bento. Antes de Maria cerzir as próprias fissuras, o batismo é consumado – a obra já nasce benzida pelo coxo. Fruto de vosso ventre maldito e da maldade de escrever.
Ficamos assim: Deus é o significado, o diabo, o significante.
Marcas: Anjo Pornográfico I [o original], Anjo Pornográfico II, Liz Christine, Patética, Teatro da Vertigem, a Vertigem, o Teatro, o Cristianismo, Jair Ferreira dos Santos, Sidney Ferreira Leite, Caê, Pami, Alex Polari, Clarice, Dostoiévski e o espírito maldito
Eu quero escrever uma porra bem sacana. Eu quero um gozo desesperado, uma personagem licenciosa, o ridículo da pornografia, a selvageria, o palavrão.
O palavrão? Eu sou o palavrão. Eu. Eu quero o deboche. O grotesco. A vertigem dos caminhos feios e insalubres. O catarro, o pecado e a escatologia. Que se decrete o estupro do lirismo! Três vivas ao mau gosto dos instintos, das palavras chulas - as desagradáveis palavras chulas. Qual o problema com o outro lado do "humano"? Qual o problema da ignorância? Qual o problema da buceta?
Problema é ser medíocre.
Qualquer coisa pode ser fescenina, animal, patética e... poética! Merda!
O gozo gozou, gozado e piegas. Pus, verme. Pisa! Pisa que é germe.
A vertigem teatral é a única coisa. Cênico é representar o irrepresentável. É vomitar o pudor mau na cara dos caretas.
Sofram, malditos. Rir é pecado e o pecado é um fantasma, já que ele sempre é uma possibilidade que assombra. Uma heresia. Eu preciso de uma heresia. Que venham todos os malditos - ah, os hereges malditos - me trazer uma heresia. Nietszche, Bukowisk, Dalí, Polari, Hilst, Geni e todos os outros!
E não saber pode ser tão mais bonito... Entender e conhecer é limitado. E sentir é um verbo tão mais interessante...
Nada é sublime? Mentira. Porque, então, o que dizer da tesão? Tesão: libido é o caralho.
Deus salve o sexo dos anjos, o desejo das crianças. O irreprimível e incensurável desejo das crianças. Deus salve o teatro dos insanos, do absurdo, do oprimido. Deus salve o sangue dos solitários, dos loucos e dos malditos - os santos malditos. Deus salve todos os seus abençoados hereges.
Afinal, a grande questão a ser colocada nessa pós-hiper-modernidade se inverteu. Porque... a grande questão é...
E se Deus realmente existir?
Não-manifesto [vomitado com gosto] do Espírito Maldito. Porque [contrariando Dostoiévski, se Deus existe,] se Deus realmente existe, a gente tá fodido.