breve-brevíssimo ou aquele morre-não-morre

Na iminência do incêndio, o inominável já está à espreita. Uma precisão de dar vida a um que toca, machuca. E lá vai o demônio... embaixo da mesa, na ponta dos dedos, pelas costas, beiço colado ao ouvido esquerdo. De mãos dadas com o diabo, vou ao caminho de Deus. Re-bento. Antes de Maria cerzir as próprias fissuras, o batismo é consumado – a obra já nasce benzida pelo coxo. Fruto de vosso ventre maldito e da maldade de escrever. Ficamos assim: Deus é o significado, o diabo, o significante.

segunda-feira, 4 de abril de 2005

 

Morte e vida na Alpha 60

Comecei tarde. Escrever é não morrer. No fundo, devo ter me perdido em algum canto dessa existência que eu construí à margem da Grande Existência - que sempre foi tão pequena aos meus olhos...
Morri cedo. Desisti antes mesmo de ouvir o meu sino de ouro tocar. Deixei pra lá. Hoje, o sentido não faz mais sentido. Não importa. A desilusão corroeu o então-já-tão frágil liame que ia das importantes questões metafísicas ao doce-prosaico cotidiano - tão doce, tão medíocre...
O morrer-renascer-morrer de todo dia. De cada breve-brevidade. De cada inter-rompimento da atividade-escriba. Meu desdém. No registro e no descaso. No registro e na desistência. No registro e no abandono de seu significado. No medíocre registro da mediocridade e de toda falta de sentido que construímos e reconstruímos: sentido.

[hesitou entre parar por aqui e rasgar a folha de papel, como já desejou tantas vezes...]

Me perdi. E agora o sei. Esqueci meus fragmentos por aí. Em algum balcão de biblioteca pública. Em algum banco de metrô hiper-lotado. Em algum gesto de alguma vida da qual não faço mais parte. Em algum olhar... em olhar nenhum, porque nunca tive essa presença de espírito. Careço disso que chamam "presença de espírito".
Perdi o norte, a identidade, o tom.
Deixei pra lá.

[fez pausa para si mesma; esperou-se... e, quando do retorno,]

Quando de minha morte, quando do fim da escrita e do gesto, façam uma festa com pompa, folia e confete. Cerimônia, ritual e teatro. Sacrifícios, sorrisos e toques. Bolinhas de sabão. Façam arte, façam alguma maldade.

[soltou o lápis como num reflexo: pôde vê-lo ainda deslizar por entre os vãos do tecido-saia. Faleceu. E, em seguida, alguém veio lhe chamar pra "dar um jeito na vaca da coordenadora de Pós, que não gostou do enfoque dado à matéria sobre a última sabatina com os pesquisadores de comunicação, sobretudo, pela linha fina 'injusta e difamadora' e que espera no telefone"]

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