breve-brevíssimo ou aquele morre-não-morre

Na iminência do incêndio, o inominável já está à espreita. Uma precisão de dar vida a um que toca, machuca. E lá vai o demônio... embaixo da mesa, na ponta dos dedos, pelas costas, beiço colado ao ouvido esquerdo. De mãos dadas com o diabo, vou ao caminho de Deus. Re-bento. Antes de Maria cerzir as próprias fissuras, o batismo é consumado – a obra já nasce benzida pelo coxo. Fruto de vosso ventre maldito e da maldade de escrever. Ficamos assim: Deus é o significado, o diabo, o significante.

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

 
A Patricia Misson

E dizem que ela ia balançando a sainha que subia e descia nas coxas azeitadas. Umas pernas que sambavam, meu Deus. Um passo mais assim e já mostrava as dobras, os culotes caprichados, os sulcos e todas essas coisas que as mulheres de verdade têm. As têmporas molhadas, os fios negros umedecidos pelo suor dos movimentos de há pouco. Amorenada, de beiços e tudo, e uns olhos de. E dizem que ia. No rebolado do andar, ainda guardava no corpo encharcado de rum o ritmo diabólico da dança, tinha quê de santeria. A pele trazia o fartum dos charutos que pendiam das bocas dos senhores rotundos. Na memória, as melodias todas e a orgia dos corpos no salão – mosaico de balés infernais.
E dizem que vinha da casa de show mais suja e famigerada da Velha Havana, cortando o silêncio sonolento daquelas alamedas, acordando espíritos e entidades. Despertava a recente manhã daquelas ruas antigas, povoadas de bares e mulheres envelhecidas que contavam as histórias dos tempos outros, coloniais – relatos enfeitiçados pelo tempo.
Em cadência sincopada, tomou a rua do Obispo, onde os deuses do comércio ainda não ardiam, febris. Chegando ao porto, de onde antigamente se partia e vinha da Europa, sentiu. Num simplesmente, sentiu-se. Percebeu-se e descobriu que era.

Comentários:
Olhos de quê?
Olhos de quê?

[a pergunta que vai rodar e rodar e]
 
E não me venha com cigana, oblíqua, dissimulada e essas coisas óbvias!
 
[Acompanhando com os olhos.]
 
olhos ou olhar? "coxas azeitadas", "pernas que sambavam"... Gostei da forma que pintas. Bjo
 
Eita! Que Machado passou aqui, foi?
 
iminência, né?
 
Corrigido. Obrigada.
 
falando nisso, misson desapareceu!
 
Eu realmente não entendo. O quê? Nada. Eu realmente não entendo. Diga mais. Tantas luzes frias, tantas paredes, tanta gente perdida. Blecautes, meu camaradinha, são assim. Não, não é a isso que me refiro. A que, então? Não sei. Tente mais um pouco, vamos lá. Sim; é só que existe algum ponto frágil por aqui, talvez algum local em urgência perigando se espatifar. Se espatifar - você está apaixonado, meu caro? Sim, acho que sim, mas não estou falando disso, não é disso não. O que é, então? Não sei, eu só não entendo. O quê? Nada.
 
E se eu me esquecesse de tudo? Se por mim passassem apenas pássaros, pássaros, atravessando meu corpo, um túnel em meus olhos, um acorde imperfeito rompendo meu rosto, sem começo, sem fim, tudo se esvaindo, liquifazendo, esvoaçando, escuridão, atração a nenhum cerne, o centro lançado como uma bola de basebol, rebatida, Joe de Maggio, uma rede balançado ao infinito, óleo entre as engrenagens, uma multidão indo de um bairro a outro, perdida, invisível, alguém, alguém, mas quem? A cidade envolvida em linhas díspares, a cidade perdida em bruma, passagens secretas eclodindo finalmente, inicialmente.
 
A cidade perdida nos desvarios dos transeuntes, no desvario de transitar, de ser um deles, de ser.
 
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